Na água quase nada permanece, quase tudo dissolve, e o que não se dissolve é duro e
levado pela correnteza.
Passo por diversos lugares, dissolvo nas experiências e vícios
daqueles mundos, mas ali não permaneço. Num movimento de imersão, dissolução e
emersão saio com o corpo nutrido. O
movimento da água me leva a outro lugar onde novamente me dissolvo; incrustada de partículas amalgamadas para me dissolver novamente, chegar
e partir, aglomerada por partes que me integram e me ajudam a ser.
A consistência fluida, ao contrario do que muitos pensam,
pode ser talvez sinônimo de sabedoria e não de alienação. O rígido não se
permite dissolver no outro para conhece- lo, teme as influencias da forma alheia. Talvez sua robustez seja casca, talvez seja ele tão frágil e ambíguo quanto a estrutura do ouriço, que faz questão de exibir seus aguilhões. Ouriços
não se dissolvem, pele e escama sim, pois tem consistência leve, permite abstrações criando
possibilidades de pura beleza, sempre volta a sua forma, porque
nunca a perde. Os solidificados perdem sua forma pelo desgaste; a água dissolve
sempre; a textura fluida sabe se dissolver sem perder um pedaço. A
substância permanente nunca mais se recupera, porque subestima a força da
água. A força da água é invisível, mas
persistente. A força do objeto sólido é visível mas imanente. O sólido
permanece e se perde, os fluidos se dissolvem. É melhor não permanecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário