quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

           Costumava, eu saltar do cais para o mar para O encontrar na água. Ele sempre chegava com uma especie de boia, para meu conforto e descanso. Conversávamos como habitualmente e Ele me chamou para dar um mergulho e apreciar alguns corais e peixes. Começávamos a nadar e fui deixar a boia numa pequena ilha de rochas, aquela estava me fazendo perder velocidade. Seguimos nadando até uma pequena enseada. Ele soprou em minha boca para que eu conseguisse respirar debaixo da água. Era maravilhoso! Ficamos observando a variedade de formas e cores daqueles animais e eu realmente estava respirando debaixo da água. Era realmente incrível!
Por um momento, me distrai da paisagem marinha e me atentei para a minha respiração, me peguei pensando até quando eu ia ter aquele ar disponível que me mantinha submersa. Comecei a me preocupar se aquele ar cessasse. Esses pensamentos me tomaram  e eu tive medo. Comecei a me sentir insegura, como se fosse acabar a qualquer momento e realmente me senti um pouco tonta. Nadei rapidamente ate a superfície tentando reter o máximo de oxigênio nos pulmões e soltando com economia até que alcançasse a superfície. Cheguei ofegante e em seguida aparece Ele e pergunta: - O que houve?
-Meu ar acabou, respondi.
- Hum.... seu ar acabou, por que?
- Não sei; comecei a pensar se eu teria o suficiente pra permanecer, aí de repente comecei a perdê-lo, acho que já estava na reserva, por isso subi antes que acabasse para me garantir. Pois eu não sabia a quantidade desse ar mágico que você inalou em mim e quanto tempo duraria.
- Filha, a duração deste ar que soprei em você é a quantidade da sua fé. Se você não se preocupasse ainda estaria respirando debaixo d'água e assim poderia permanecer eternamente, pois eu sou eterno.

 

terça-feira, 9 de maio de 2017

Pago





Minha trajetória artística começou no curso de Artes Plásticas da Escola Guignard/ UEMG.
Especializei-me em fotografia e pintura, embora meu trabalho se estenda por outras técnicas. Meu ponto focal na fotografia é a figura humana, trabalho com modelo vivo e tenho investido nas suas expressões porque dão movimento às imagens num sentido dramático, precipitando a força da mensagem. Percebo ser muito natural para quem faz Arte Contemporânea a dificuldade de conseguir expressar, quase que integralmente, o que se idealiza para determinada obra, de forma que o espectador capte uma percentagem, considerável do pensamento fundamental do artista. Na maioria das vezes em que visito exposições de Arte Contemporânea, a essência da obra só viria depois que eu lia algo sobre ela, ou se eu já conhecia algum ponto da trajetória do artista. Concordo que a arte deve ser uma ponte entre o pensamento do artista e a leitura do espectador, mas creio que deve haver um equilíbrio entre as expectativas: artista – espectador, já que muitas vezes a linguagem conceitual do artista se dilui somente lhe restando as suas cruas formas, que para a arte pós-conceitual já não é o suficiente. Esse é o maior desafio, proporcionar um equilíbrio entre a minha visão e a de quem vê meu trabalho. O equilíbrio é o desafio da Arte da pós-modernidade, onde é muito fácil a ideia principal do artista se perder num turbilhão de informações imediatas num tempo de escassa assimilação, mistura e superficialidade que nossa cultura atual nos leva.
. Encontro no meio de arquivos antigos este trabalho que foi feito em 2008,  são retratos,  onde carimbei a testa de algumas pessoas com um carimbo escrito a palavra “pago”, em vermelho; desses que as lojas usam quando compramos uma mercadoria. As pessoas que foram fotografadas admitem e professam o sacrifício de Jesus de Nazaré por suas vidas, elas são pessoas que vivem essa realidade e o termo pago significa que elas foram compradas por Ele, foram restituídas, transformadas, aceitas e humanizadas.
Afinal de contas, todos nós  carregamos em nós um “pago”, mas pago pelo que? Quem ou o que tem nos comprado? Quantos hoje são como mercadorias compradas pelo materialismo, hedonismo,  pelo suborno em detrimento à justiça, etc. Qual é o preço de cada um de nós? Estes e outros possíveis questionamentos em torno de uma cultura materialista e individualista abraçam a reflexão deste trabalho que resgatei com imensa alegria. 


terça-feira, 25 de abril de 2017

Paetês, Bananas, Escamas, Coração...

          Sonhei que estava colando paetês em bananas. Soa estranho, como a maioria dos sonhos, é engraçado e ilógico; mas eu permaneci pensando sobre este sonho e não é tão ilógico assim. Elementos surrealistas são justaposições de objetos aparentemente sem sentido para nos ajudar entender  coisas  importantes na vida; só que a gente despreza o que é engraçado e aparentemente sem sentido porque não corresponde a nossa logica pragmática de organização diária. O bom de ser artista e os poetas também podem sentir a mesma gratidão, é que a gente dá importância a essas trivialidades, louquinhas de rir. A gente não dá de ombros, pois qualquer coisa é uma oportunidade pra encher o coração. E enche. Não vou falar  sobre o que eu compreendi sobre a metáfora da banana coberta de paetês; mas isso me leva a falar das motivações dos artistas e poetas fazer o que fazem, principalmente na arte que não é óbvia, que, como a um sonho esquisito, a gente dá de ombros porque não gostamos de perder tempo com essas coisas insignificantes, e assim vai.. e a gente vai perdendo a capacidade de ser sensível e fica parecido com o dragão Smaug, cheio de escamas duras, que não é atingido por nada, carregando toneladas de rigidez , mas até ele tinha um pedacinho na barriga , bem pequenino, que não havia escama, e quando a flecha o atingisse naquele lugar vulnerável ele morreria. Talvez seja isso, morrer, para viver e isso requer vulnerabilidade. O dragão não morre para viver, mas aquele era o ponto sensível dele.  Mas a gente deve morrer ( quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á;  Marcos 8:35)deixar ser atingido naquele lugar que a gente mesmo faz questão de manter oculto. 
           Paulo, discípulo de Jesus, ficou cego quando o viu, mas quando voltou a enxergar disse que escamas caíram dos seus olhos, interessante essa metáfora; as escamas caem e a sensibilidade aparece, acontece uma mudança de mente, do olhar, a realidade muda e os olhos são curados, abertos para aquilo que ultrapassa os parâmetros desse mundo chato, desse sistema chato, que tem exigências chatas e medíocres para o sucesso. 
A arte e a poesia pode ser a passagem de ida à transcendência, mas não devem haver escamas, pois suas poltronas são de seda. 
          Gosto muito da obra ilustrada aqui, de Domingos Mazilli, um coração que leva algumas perolas costuradas. Essa obra me vem a cabeça todas as vezes que gando algum conhecimento de Deus. Quando estou orando pela manhã e tenho uma revelação na palavra, me sinto assim, como se uma perola fora acrescentada no meu coração, e assim Deus vai enchendo meu coração, uma pedra, duas, três... a cada vez que leio um texto e que vem um novo aprendizado. Estimo muito esta obra e a inspiração que esse artista teve, seja lá o que o levou a criar isto, seja lá o que ela significa, mas veio aos meus afetos trazendo um significado puro, que ilustra minha relação com Deus a cada iluminação do Espirito Santo. Poderia até usá-la para ilustrar Provérbios 3:1 " Filho meu, não te esqueças da minha lei, e o teu coração guarde os meus mandamentos." 
Talvez eu pudesse olhar para tal obra e sentir repulsa por só conseguir enxergar carne crua exposta e ainda desprezá-la porque  não é uma pintura realista e não corresponde ao meu entendimento do que é ou deixa de ser arte, porque ela desafia minha lógica e afetos.  
          Estou cada vez mais convicta de que as escamas são roupas das quais devemos nos despir, elas configuram o espirito da religiosidade, de se achar melhor e conhecedor de todas as formas, do desamor, do preconceito, dos julgamentos....