terça-feira, 9 de maio de 2017

Pago





Minha trajetória artística começou no curso de Artes Plásticas da Escola Guignard/ UEMG.
Especializei-me em fotografia e pintura, embora meu trabalho se estenda por outras técnicas. Meu ponto focal na fotografia é a figura humana, trabalho com modelo vivo e tenho investido nas suas expressões porque dão movimento às imagens num sentido dramático, precipitando a força da mensagem. Percebo ser muito natural para quem faz Arte Contemporânea a dificuldade de conseguir expressar, quase que integralmente, o que se idealiza para determinada obra, de forma que o espectador capte uma percentagem, considerável do pensamento fundamental do artista. Na maioria das vezes em que visito exposições de Arte Contemporânea, a essência da obra só viria depois que eu lia algo sobre ela, ou se eu já conhecia algum ponto da trajetória do artista. Concordo que a arte deve ser uma ponte entre o pensamento do artista e a leitura do espectador, mas creio que deve haver um equilíbrio entre as expectativas: artista – espectador, já que muitas vezes a linguagem conceitual do artista se dilui somente lhe restando as suas cruas formas, que para a arte pós-conceitual já não é o suficiente. Esse é o maior desafio, proporcionar um equilíbrio entre a minha visão e a de quem vê meu trabalho. O equilíbrio é o desafio da Arte da pós-modernidade, onde é muito fácil a ideia principal do artista se perder num turbilhão de informações imediatas num tempo de escassa assimilação, mistura e superficialidade que nossa cultura atual nos leva.
. Encontro no meio de arquivos antigos este trabalho que foi feito em 2008,  são retratos,  onde carimbei a testa de algumas pessoas com um carimbo escrito a palavra “pago”, em vermelho; desses que as lojas usam quando compramos uma mercadoria. As pessoas que foram fotografadas admitem e professam o sacrifício de Jesus de Nazaré por suas vidas, elas são pessoas que vivem essa realidade e o termo pago significa que elas foram compradas por Ele, foram restituídas, transformadas, aceitas e humanizadas.
Afinal de contas, todos nós  carregamos em nós um “pago”, mas pago pelo que? Quem ou o que tem nos comprado? Quantos hoje são como mercadorias compradas pelo materialismo, hedonismo,  pelo suborno em detrimento à justiça, etc. Qual é o preço de cada um de nós? Estes e outros possíveis questionamentos em torno de uma cultura materialista e individualista abraçam a reflexão deste trabalho que resgatei com imensa alegria. 


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